Elas na Ciência: pesquisadoras apontam desafios da participação das mulheres na CT&I
Respeitar e valorizar as identidades femininas, promover políticas públicas que gerem equidade e oportunidades e combater o sexismo são alguns dos caminhos apontados na mesa temática sobre mulheres na ciência.
Reconhecer a diversidade de mulheres no tecido social, desenvolver políticas públicas adequadas para cada categoria e incentivar a participação feminina na CT&I. Estas são as prioridades elencadas pelas debatedoras que participaram da mesa temática “Mulheres na Ciência, Tecnologia e Inovação”, dentro da 5ª Conferência Nacional de CT&I. O evento segue até hoje (1º), em Brasília (DF).
Realizada pelo MCTI e organizada pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), organização social supervisionada pelo ministério, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação tem como principal objetivo discutir com a sociedade as necessidades na área de CT&I e propor recomendações para a elaboração de uma nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) até 2030. A 5ª Conferência conta com o patrocínio Master do Banco do Brasil e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), patrocínio Ouro da Positivo e WideLabs, e patrocínio Prata da Caixa Econômica Federal e Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
A professora Márcia Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS), apresentou um panorama sobre a atual situação das mulheres no campo acadêmico e na CT&I. A pesquisadora enfatizou a necessidade da equidade de oportunidades, com condições para o acesso e a manutenção das mulheres nesses espaços. “As políticas que garantam a equidade de oportunidades não são a solução definitiva. O que precisamos é ter uma sociedade que olhe as pessoas em todo o seu potencial. Mas até lá, precisamos dessas medidas compensatórias”, afirmou.
A professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Associação Brasileira de Pesquisadoras/es Negras/os (ABPN), Katemari Rosa, reforçou pontos que, segundo a pesquisadora, são balizadores que dificultam a emancipação das mulheres.
“Três coisas básicas que vão nos ajudar a pensar em políticas públicas voltadas para mulheres: vivemos em uma sociedade de supremacia branca, cis patriarcal e sob um regime capitalista, onde a concentração de renda reflete os resultados dos pontos anteriores, que são exclusão e opressão”, disse.
Mulheridades – O conceito de mulheridades foi apresentado pela professora Rosângela Aparecida Hilário, membro do Comitê Executivo da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC). Ela explicou que a expressão visa contemplar os diferentes tipos de mulheres, buscando identificar raça, sexualidade, condição física, social etc. “O conceito precisa se ampliar e abrigar as existências e identidades, para que todas as mulheres caibam no conceito e tenham acesso aos seus direitos. A partir dessas identidades, nós podemos criar possibilidades de pesquisa, de entendimento, de melhorar a vida das pessoas. Porque a ciência, se não circula, não serve para nada”, analisou.
Raça- A professora ainda afirmou que não é possível discutir nenhum tema no Brasil sem pensar a questão da raça. “É preciso reconhecer que raça pauta os percursos e descaminhos da vida das pessoas. Não há desenvolvimento sustentável e combate às desigualdades sem equidade de formulação, organização e desenvolvimento de políticas para acesso e permanência na universidade”, ressaltou.
Carreira – A assessora do Ministério das Mulheres, Ana Rocha, destacou os dados sobre a vida acadêmica e profissional das mulheres. De acordo com ela, por meio de pesquisas apresentadas, as mulheres estão conseguindo chegar aos espaços da CT&I, mas encontram dificuldades em manter-se neste espaço e até mesmo atingir o topo da carreira. Ela lembrou que o fator predominante para esta realidade é a divisão sexista das atividades cotidianas, que são leves para homens e de sobrecarga para mulheres. “Nós temos o desafio da sociedade como um todo, na mídia, na cultura e na educação, de mudar essa visão conservadora da divisão de papel, da divisão sexual do trabalho, do que é trabalho de homem, do que é trabalho de mulher. Isso impacta na ciência, nas carreiras e, ao mesmo tempo, garante a implementação dessas políticas que liberam e tiram essa sobrecarga das mulheres para que elas possam se manter na carreira e chegar ao topo, transformando de verdade essa realidade desigual”, afirmou.
Oportunidades – A promoção de políticas públicas de igualdade de gênero foi defendida por todas as debatedoras. As propostas passam por cotas de liderança, apoio logístico à maternidade, política antiassédio, promoção à diversidade e educação para a cultura do respeito, entre outras. A pesquisadora do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), Giovanna Machado, é criadora e coordenadora do Programa Futuras Cientistas, voltado para meninas e professoras da rede pública de ensino. A iniciativa visa despertar o interesse na CT&I, por meio de projetos de pesquisa científica e imersão em institutos, universidades e empresas.
Maternidade – Pesquisas envolvendo as universidades brasileiras mostram que após o nascimento dos filhos, a carreira acadêmica e profissional das mulheres é altamente prejudicada, enquanto a carreira dos homens se mantém ou tem ascensão. Para Letícia Oliveira, Membro do Parent in Science, movimento de apoio à maternidade na academia, é preciso investimento na política de apoio à maternidade com, por exemplo, creches e espaços de acolhimento, equidade na licença parental (maternidade e paternidade), auxílio dependente para viagens, normalidade de pausas na carreira sem prejuízo curricular, o combate ao racismo, assédio, capacitismo, entre outras ações.
A mesa temática, assim como todos os momentos da 5ª Conferência Nacional de CT&I, estão disponíveis no canal do MCTI no Youtube.
Fonte: Ascom/MCTI.