Agroecologia é pauta na busca de soluções para sustentabilidade e combate a emergências mundiais
Mudanças climáticas, combate à fome e insegurança alimentar, democratização do acesso à alimentação suficiente e nutricional são desafios a serem enfrentados.
A agroecologia é uma ciência que baseia-se em três conceitos: ser socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Apontada como um dos caminhos para minimizar os impactos negativos no meio ambiente gerados pelo agronegócio, ela é defendida também como uma das formas de combater o avanço das mudanças climáticas. “Agroecologia sustentável e competitiva” foi o tema de uma das Mesas Temáticas do último dia da 5ª Conferência Nacional de CT&I.
Um dos problemas mundiais, que também é muito particular do Brasil, é a insegurança alimentar. Mariângela Hungria, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC),
apresentou dados alarmantes sobre insegurança alimentar. “Nós temos um problema antagônico no nosso país, onde a gente pode alimentar, hoje, 1 bilhão de pessoas no mundo, mas a gente tem 33 milhões de pessoas em insuficiência alimentar grave no país. Isso é vergonhoso, pois como a gente pode ser grande produtor de alimento e ter essas pessoas passando fome?”, questionou. Segundo Mariângela, é importante ressaltar o potencial do agronegócio nacional, que é responsável por um bom superávit financeiro para o país, mas lembra que ele precisa estar mais próximo da agroecologia, consequentemente, da agricultura familiar e da distribuição de alimentos.
O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão colegiado brasileiro ligado à Presidência da República, oferece dados detalhados da sociedade com o objetivo de fomentar políticas e direcionamentos de gestão para o combate à fome e à insegurança alimentar. A presidente do Consea, Elisabetta Recine, afirma que o conselho trabalha com diversos setores da sociedade civil e promove a interlocução entre povo e governo para ações efetivas. “Nossas ações são relacionadas a experiências reais da sociedade civil, são organizações, são movimentos da sociedade civil que trouxeram para a interlocução do governo experiências como o programa de aquisição de alimentos, o programa de cozinhas solidárias, de quintais produtivos, a qualificação do programa de alimentação escolar, entre outros. E tudo isso vem sendo trabalhado na perspectiva da agricultura familiar”, exemplificou.
O representante do setor de produção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Diego Moreira, lembra que a agroecologia é fundamental para o combate de duas emergências mundiais: a da fome e a climática. “A agroecologia é sim um caminho necessário para que possamos avançar nessa direção. Então não basta estar nas cabeças de alguns movimentos ou de alguns intelectuais ou de alguns pesquisadores, nós precisamos construir uma sinergia na perspectiva de construir um projeto. A agroecologia precisa estar na perspectiva de projeto de agricultura do presente e do futuro para enfrentar essas questões”, avaliou.
Moreira também ressaltou o que, segundo ele é necessário “para avançar na agroecologia. “Precisamos de insumos indivisíveis, que são reforma agrária, acesso a sementes e diversidade de produção, bioinsumos, mecanização e industrialização da agricultura familiar, acesso ao crédito e comercialização”, enumerou.
O agronegócio é responsável, hoje, por mais de 50% de tudo que é exportado no Brasil, movimentando cifras bilionárias. A diretora executiva da Fundação Bunge, Claudia Buzzette Calais, explica que a empresa reúne grandes empresários do ramo agrícola e de produção e que o setor vem trabalhando para a valorização da agricultura familiar. “Nos últimos anos o agronegócio tem tentado trabalhar para além das grandes cifras, enxergando como que ele pode estar inserido num contexto de desenvolvimento de país, olhando e valorizando e potencializando essa agricultura familiar, os povos tradicionais e as áreas preservadas pelos povos tradicionais.
Segunda ela, o conceito que a Bungue tem trabalhado dentro do agronegócio, é um conceito de trabalho integrado, “Não queremos que o agronegócio seja apenas sinônimo de produção de larga escala, voltado para exportação, mas que o agronegócio seja uma conjunção sistêmica entre produção de larga escala e produção familiar”, afirmou.
5CNCTI- Realizada pelo MCTI e organizada pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), organização social supervisionada pelo ministério, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação tem como principal objetivo discutir com a sociedade as necessidades na área de CT&I e propor recomendações para a elaboração de uma nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) até 2030. A 5ª Conferência conta com o patrocínio Master do Banco do Brasil e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), patrocínio Ouro da Positivo e WideLabs, e patrocínio Prata da Caixa Econômica Federal e Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
Confira abaixo a íntegra da Mesa Temática “Agroecologia sustentável e competitiva”:
Fonte: Ascom/MCTI.